Às vezes, sem perceber, conhecemos Seres de Luz! Uma crônica do Dia do Amigo.

Boa tarde!

O último post foi, para mim, difícil de escrever. Descrever mazelas nunca é fácil, mas não podemos ignorar o que acontece à nossa volta.

Hoje, porém, nós vamos falar de coisas boas. Amizade, perseverança, cuidado...

Vou contar para vocês, queridos leitores, duas histórias que envolvem companheiros de minha turma na EPCAR e na AFA, que demonstram, como diz o título, que seres de luz habitam entre nós, podem acreditar...

Não, não sou espiritualizado, esotérico, deixo isso para minha linda editora, mas reconheço que certos eventos nos mostram que ainda podemos ter esperanças.

Vamos lá! 

A primeira história é simples. Davi, um grande companheiro, formado no ITA, uma cabeça privilegiada, nasceu com um problema renal que afetou também outros de sua família. A indicação era de transplante, mas não havia compatibilidade próxima. Alguns companheiros de turma ofereceram-se para a testagem e, felizmente, encontraram o Lyra, um baixinho abusado, que forneceu o rim para a cirurgia, que foi um sucesso.

Acontece, e sempre acontece alguma coisa, vocês sabem, que o rim do Lyra também não era lá essas coisas e, algum tempo depois, lá estava o Davi de novo na fila. Novos testes e, surpresa, o Vitor era compatível. Vitor não chegou a concluir a Academia. Hoje é dentista. Mora no interior do Rio.

Marcada a cirurgia, nova surpresa. O doador tinha três rins funcionais. Nem sequer teve o prejuízo da perda do órgão.

Um caso, várias lições. Não havia a motivação familiar, apenas a amizade forjada nos bancos da escola. Vocês já pensaram nisso... seres de luz.

A segunda é ainda melhor.

As forças aéreas americanas promovem intercâmbios entre seus cadetes. Minha turma tem dois bolivianos, dois venezuelanos e dois panamenhos. Um dos panamenhos, o Cortizo, sofreu um acidente grave em um treinamento militar no primeiro ano de Academia e ficou tetraplégico. Voltou para seu país e ficamos muitos anos sem ter notícias. Quando finalmente o encontramos, estava morando em Barcelona, com sua mãe, que tem ascendência espanhola, apoiado pelo sistema de saúde daquele país, mas em uma situação bastante precária.

Por sorte, um outro amigo de turma, Silva Dias, que havia pedido demissão ainda capitão, vive em Barcelona, e passou a cuidar das coisas do Cortizo. Além disso, o Silva Dias participa de um programa de adoção de crianças africanas e tem hoje, posso estar errado, três filhos adotivos. Seres de luz...

A turma se movimentou. Todo mês, enviamos uma quantia em dinheiro que praticamente sustenta o pouco do conforto do Cortizo. Melhoramentos na cadeira, utensílios especiais, até mesmo dinheiro para cuidadores. Tentamos fazer o melhor e acompanhamos de longe.

Eu e minha linda editora estivemos com eles em 2013. Tomamos um lanche juntos e, em mais de duas horas, o Cortizo nos contou, sem uma gota de mágoa, toda a sua aventura depois que deixou o hospital no Brasil. Tem Panamá, Cuba, Espanha. Tem história para um outro post.

Hoje, suprema ironia, o Cortizo, além de sua condição, tem que se preocupar com sua mãe, que vem desenvolvendo Alzheimer. Seres de luz...

Eles estão por aí, nem sempre a gente vê, mas eles estão...

Até a próxima.

EU ASSINO

PS: Passei a escrever também no blog Monsters of Wine, de nossa confraria...