Consciência



Bom dia!

Alguns amigos estranharam a falta de um post ontem. Ainda estou tentando entender com que frequência devo usar este espaço, a fim de que nossa conversa não se torne cansativa. Além disso, não reconheço a necessidade de que tenhamos um dia dedicado a qualquer tipo de consciência, seja ela de cor, gênero, orientação política ou religiosa etc.

Mercado Municipal
Prefiro crer em ações afirmativas que atendam à sociedade como um todo. Vou exemplificar meu pensamento partindo da minha própria história de vida.

Meus avós vieram de Portugal no início do século e estabeleceram-se como pequenos comerciantes na área do Mercado Municipal de Santos e no Itapema, hoje Vicente de Carvalho, distrito de Guarujá. Não houve, em nenhum período de nossa família, bonança ou excesso de riqueza. Criava-se os filhos com dificuldades, mas honestamente. Minha avó paterna faleceu quando meu pai tinha dois meses, deixando cinco filhos. Com o falecimento de meu avô, os cinco filhos passaram a ser criados por aquela que seria minha bisavó materna, que possuía, por sua vez, outros sete filhos. Se não perdemos as contas, viraram doze irmãos. O curioso é que meu pai acabou apaixonando-se pela “sobrinha” Silvia, filha mais velha de sua irmã de criação. No início, minha mãe não aceitou a corte, acreditando que estava fazendo algo errado ao namorar o tio. Resolvida a situação, aqui está este que vos fala e seus três irmãos. É enrolado, mas deu certo...
Forte do Itapema - Guarujá-SP

Meu pai, como lhes falei, foi um dos precursores da COSIPA, hoje uma das filiais da USIMINAS. Com muito custo, trabalhando por turnos, passando madrugadas longe de casa, conseguiu comprar um apartamento do recém construído BNH e pôde deixar a edícula onde morávamos, nos fundos da casa de minha avó. Estamos em setembro de 1971. No ano seguinte, iniciei meus estudos no Lourdes Ortiz, de onde saí em 79 para um ano de curso técnico e o ingresso na EPCAR.

Nessa época, a escola funcionava em três turnos diurnos e um noturno, para o MOBRAL, programa de alfabetização de adultos. Não havia necessidade de se estudar em escolas particulares, que eram poucas e geralmente recebiam os filhos de famílias mais abastadas. Com esse ensino, eu e meus irmão tornamo-nos o que somos hoje e criamos nossas próprias famílias.

O QUE MUDOU? Por que não conseguimos manter este padrão de ensino em nossas escolas públicas? Por que não damos mais as mesmas oportunidades para as pessoas de menor posse? Estas são as ações a que me refiro. Não interessa saber a cor da sua pele, se você gosta de menina ou menino, se você é católico, evangélico, umbandista. Interessa sim você aceitar as diferenças e oferecer A TODOS as melhores oportunidades.

Jayme, o título do post é consciência. O que isto tem a ver?


Calma, vou continuar minha história. Ao cruzar o Portão da Guarda da Escola Preparatória de Cadetes do Ar, em Barbacena, 15 anos recém feitos, passei a compartilhar sonhos com outros 260 jovens, vindos de toda parte do país, com experiências totalmente diferentes (passarei a chamar este grupo de TURMA). Esta convivência criou, em cada um dos integrantes da turma, uma necessidade de adaptação, o surgimento de uma nova CONSCIÊNCIA coletiva em que buscávamos, todos longe de suas casas, soluções para os problemas do grupo e de cada um de seus membros. Isto fez com que todos evoluíssem, independentemente, volto a dizer, de cor, credo, opção sexual. Os resultados individuais atingidos eram respeitados e cada um pôde decidir sua carreira de acordo com os mesmos critérios para todos. Alguns, por vários motivos, não seguiram a carreira militar. Três anos mais tarde, outros tantos ingressaram diretamente na Academia da Força Aérea e incorporaram esta mesma consciência, a ponto de não mais distinguirmos quem ingressou onde.

Somos uma turma forte até hoje, cada um com sua vida privada, mas unidos em sentimento. Tenho amigos negros muito mais capacitados intelectualmente do que eu. Tenho amigos brancos que perderam a luta contra as drogas e até pelo crime. Tenho amigos, enfim, e assim os considero.

Acredito fortemente que só conseguiremos evoluir como Nação se, respeitados os contextos históricos, pudermos oferecer as mesmas oportunidades a todos da “turma”, sem distinção.

Foi um pouco longo, eu sei, mas este é o recado que queria dar...

Antes de assinar, faço uma referência a meu concunhado, Dr. Pedro Haidar, fisioterapeuta em Coxim-MS, que oferece seu conhecimento para ajudar pessoas de todas as classes sociais e que será homenageado pela Assembleia Legislativa daquele Estado. Esse é o espírito! Parabéns, compadre!

Até o próximo...

Eu assino!

Comentários

  1. Perfeito. Somos seres humanos e pertencemos todos a mesma "turma". Deveríamos amar mais e respeitar mais uns aos outros. Um pouco mais de empatia nos ajudaria a convivermos melhor.

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  2. E Pedro Haidar, filho de imigrantes sírios, também estudante de escolas publicas, deficiente físico que não fez de sua deficiência um motivo para lamentos, mas um motivo para lutar e mostrar do que é capaz. Abraço, cunhado

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  3. Meu amigo Jayme aqui é o Mottinha da turma 81. Li o seu blog no Facebook e acho que posso te ajudar, dentro das minhas limitações, a entender o que MUDOU, como você questiona.
    Até a nossa geração, a escola pública não atendia todos jovens brasileiros, mas apenas uma parcela, que mesmo sendo pobres ou de classe média, tinham acesso e apoio familiar para estudarem.
    Para ilustrar isso, na minha foto de formatura do ginasial, haviam apenas três alunos pretos ou pardos. E minha escola se situa no bairro de Guadalupe, Rio de Janeiro, numa região onde moram muitas famílias negras e pardas. Mas a escola brasileira como instituição não estava e não está ainda preparada para receber esses jovens, além de outros fatores sociais e econômicos que contribuem para a enorme evasão escolar. É um assunto longo e complexo, mas que já foi bastante estudado por pesquisadores e cientistas da Educação, e inclui fatores sociais como vulnerabilidade econômica e social, falta de acolhimento na escola, ou seja, os professores não valorizam os alunos da mesma forma, mesmo de forma inconsciente, entre outros fatores.
    Na verdade meu amigo, a melhor pergunta não é O QUE MUDOU na nossa sociedade, mas sim Porque NADA MUDOU até os dias atuais na nossa sociedade.

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  4. Quanto ao dia da consciência negra, até pouco tempo mesmo eu também não tinha idéia do porquê desse dia. E acho que não é culpa nossa não entender e valorizar esse dia porque na verdade o mais importante, que são os motivos de criação desse dia, não são ditos de forma clara.
    Mas depois de voltar para a sala de aula para aprender uma nova profissão (professor) eu acabei aprendendo que esse dia existe para reforçar ou criar na sociedade brasileira a consciência dos impactos de um período de escravidão de mais de 300 anos na nossa sociedade. Então esse dia não é para os negros, esse dia é principalmente para os brasileiros que não reconhecem, na realidade ATUAL, os problemas, as mazelas, decorrentes desse período no qual o nosso país foi formado. Reconhecer a raiz histórica desses problemas nos faz ver com maior clareza os desafios que temos que enfrentar para fazer desse País um lugar melhor para nossos filhos e netos viverem, posso te garantir.
    Eu sei que é dolorido para todos, brancos e não brancos, reconhecer que a transformação de pessoas não brancas em mercadorias (coisas) foi utilizada para a produção de riqueza e patrimônio, e depois de livres por decreto imperial essas pessoas foram abandonadas a própria sorte, o que de certa forma perdura até hoje.
    Mas assim como o povo alemão fez, temos que nos debruçar sobre o nosso holocausto, pois enquanto não fizermos isso não haverá paz, não haverá respeito, solidariedade, igualdade. Não haverá NAÇÃO meu amigo. Beijos pra família e vamos surfar!!!

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    1. Meu amigo de turma, obrigado pela atenção. Não podemos esquecer dos contextos históricos. Disse isto no post. Ainda assim, prefiro crer que as ações tem que ser feitas para todos. Citei meu cunhado, filho de imigrantes e deficiente físico. Sofre também com diversos preconceitos, mas continua a lutar pelo seu dia a dia. Forte abraço.

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    2. Os comentários só comprovam, no meu entender, quão longe está a sociedade brasileira de entender os efeitos da escravidão na realidade que nos impacta diariamente. Não precisará existir o dia da consciência negra, assim como o dia dos povos indígenas, se essa consciência existisse. Mas sou otimista, principalmente quanto às novas gerações.

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  5. As "turmas" nos acompanham por toda vida mesmo. Muito bom! Vale ressaltar que ainda existem nas escolas públicas professores e outros profissionais que continuam oferecendo seu conhecimento num padrão elevado, pelo simples motivo de amarem o que fazem e isso tb reflete na vida de muitos jovens. Que pena q nem todos conseguem desempenhar dessa forma. Tb concordo que temos q dar oportunidades iguais a todos aqueles q se esforçam.

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  6. Pra variar o professor é sempre o vilão da história. Eu como professora de escola pública não aceito essa generalização. Aliás, o trabalho desenvolvido na escola em que leciono para conscientizar alunos é tão grande, que temos visto bons resultados. Nas nossas salas de aula, temos uma grande diversidade. Tenho alunos brancos, negros, loiros, cabelos lisos, encaracolados, gays, lésbicas, bissexuais e alunos de inclusão. Todos se aceitam e se respeitam. ELES dão exemplo do que é uma convivência sadia. Temos muito trabalho ainda, mas os jovens estão muito mais na frente do que a maioria da sociedade. Eles não fazem discriminação, a sociedade adulta sim. E eu, professora, não discrimino ninguém e não vejo nenhum colega fazendo isso. Pra mim nós, todos são ALUNOS. Ainda ouvi hoje de uma professora com descendência negra que não deveria haver o dia de ontem, porque falar sobre os negros faz parte do currículo anual e não apenas de um dia.

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