Céu de brigadeiro? Sei...

 

Dia desses em Santos!

Boa tarde, pessoal!

Vocês já devem ter ouvido a expressão aí do título, ou talvez "mar de almirante". Geralmente, elas estão relacionadas àquele céu azul de dar gosto ou àquele mar de calmaria, talvez ruim para os veleiros, mas ótimo para as modernas embarcações.

Pois é! Já que eu não consigo ficar quieto, sempre achei essa expressão, senão injusta, um pouco fora da realidade.

Acontece que brigadeiros e almirantes têm, em sua rotina, que tomar decisões muitas vezes tensas, que impactam diretamente na vida de subordinados e suas famílias. Estou considerando aqui apenas tempos de paz (guerras ou conflitos nem podem ser analisados dessa maneira). Normalmente, os dias mais se parecem com essa foto aí em cima, tirada da janela do meu quarto na semana passada, esse sim, para mim, um céu de brigadeiro...

Vou contar dois casos, que ocorreram durante meu último cargo de Comandante, na Escola de Especialistas de Aeronáutica, em Guaratinguetá. Nos dois, uma coisa em comum, eu não tinha o conhecimento técnico para atacar o problema, mas era o responsável por liderar as equipes e decidir.

O primeiro ocorreu em setembro de 2016, em uma sexta-feira. No dia seguinte, receberíamos delegações da Marinha e do Exército para a competição esportiva entre as escolas de formação de sargentos. Durante o dia, um incêndio tomou conta da mata ao redor da Escola e, com o vento, começou a ameaçar as casas das Vilas Militares. Nesse momento, eu já estava no campo, acompanhando os trabalhos das equipes contra-incêndio, acionando os meios disponíveis nas cidades próximas, às vezes ajudando a desobstruir as vias. A cabeça a mil. Teria que decidir em breve sobre a evacuação das casas, abrigos para todos, alimentação, Entenderam o que eu digo? Não havia pedaço de céu azul...

Felizmente, com muito trabalho, conseguimos controlar a situação. Lembro que, por volta de uma da manhã, vi uma sargento, um metro e sessenta de altura, sair do meio de um bambuzal carregando uma mangueira e dando ordens para os soldados de sua equipe. Baita orgulho da formação técnica da Escola.

Controlado o fogo, as vias internas estavam o caos. Virei para minha assistente e mandei acionar expediente completo para a manhã seguinte, sábado. Já era noite. Mandei divulgar pelas redes sociais e chats. Na manhã seguinte, às 8, a tropa estava toda perfilada no pátio do Comando. Ao meio-dia, restava pouca coisa a ser feita. Às 3 da tarde, recebi as delegações com a Escola limpa e funcionando. Decisões...

O segundo caso ocorreu a três dias do Natal. Uma tempestade de verão causou o destelhamento de cinco casas de sargentos e do centro de lazer dos Suboficiais e Sargentos. Lá estávamos nós removendo entulho, ajudando as famílias, tentando minimizar os efeitos. Comecei a pensar na ceia de Natal daquelas famílias. Conversando com o pessoal da administração, decidi colocar força máxima no reparo das casas. Todos puderam cear já abrigados. Deixei o centro de lazer para depois. Mandei fazer um projeto de ampliação. O espaço era acanhado para a quantidade de usuários. Brigamos por recursos até o final do meu Comando. Hoje a reforma está concluída. Muito maior e melhor equipado. Sempre agradeci a Deus pela qualidade do meu time. Eles sabem disso...

Foram muito outros casos. Em todos eles, diferentes questões e decisões difíceis. Minha única certeza era tentar fazer meu melhor e enxergar o rasguinho de céu azul. 

Acho que fui exagerado. Se você equilibrar boas e más situações, o céu realmente vai estar bonito. Meus subordinados, ou melhor, meus amigos, ajudaram-me a cumprir bem as missões.

Dito isso, que todos vocês tenham muitos céus de brigadeiro por vir...

Até a próxima!

Eu assino.