Carreira militar: vale a pena?
Bom dia!
Vale, e muito!
Ainda não toquei neste
assunto no blog, mas, antes de ingressar na FAB, meu sonho era ser engenheiro,
se possível formado pelo ITA(tentei ingressar, mas não me preparei devidamente).
Conheci a EPCAR meio sem querer. Estava caminhando para o colégio com um amigo,
já falecido, meados de 80, e ele me apresentou um folheto de uma escola de 2º
grau da Aeronáutica, em Barbacena. No post anterior, disse que cheguei a cursar
um ano de ensino técnico, eletrônica, em um colégio particular conhecido de
Santos. Logo, estava dando “despesa”. Aquela me pareceu uma boa oportunidade de
ajudar em casa. Além disso, como era uma escola “da Aeronáutica”, pensei que a
transição para o ITA seria mais fácil. Não é. Presta-se o temido concurso de
qualquer jeito.
Com o apoio dos pais (mais
do pai do que da mãe, descobri alguns anos depois) fiz a prova e fui aprovado
na primeira tentativa. Ao chegar na Escola é que fui conhecer as
características da caserna. Você já ouviu falar em privilégios? Esqueça. A vida
militar é repleta de sacrifícios, a começar pela própria formação.
Passei três anos em
Barbacena e quatro em Pirassununga, internado e estudando muito, até ser
declarado aspirante-a-oficial aviador. Quando cheguei a Natal, para o “estágio”,
achei que estava com a vida ganha. Balela. Continuei estudando, por mais de
trinta anos, até poder chegar agora e contar isso para vocês.
Nesse tempo, encontrei a
Alessandra, conheci o Brasil, fiz 17 mudanças de residência, tivemos nossos
dois filhos. Perdi inúmeras festas de família, morei longe, passei dias afastado dos meus, voando e cumprindo as
missões para as quais era escalado. Fui instrutor de helicóptero, minha
especialização, transmiti muito do que havia recebido de meus instrutores.
Tomei alguns sustos, todo aviador toma, salvei vidas.
Com o avançar da carreira,
passei a assumir funções de comando, especialmente na formação de sargentos, em
Guaratinguetá. Ali, pude conviver com militares de alto valor e conhecer os
problemas e os sonhos dos jovens que, como eu, um dia se juntaram à FAB. Os desafios
só aumentaram. Se antes era o domínio da máquina, agora era o acompanhamento e o
julgamento da capacidade dos novos alunos para cumprir os objetivos da Força. O
trabalho no ensino é motivador, porém estressante. As escolas militares possuem
o grande diferencial de formar aqueles que vão fazer parte de time, Isto não
tem preço.
Fui instrutor também na
Escola de Comando e Estado-Maior, onde trabalhei com os futuros líderes da FAB.
Falando em liderança, prometo um post sobre ela em breve, não para discorrer
sobre teorias, mas para mostrar minha visão dos líderes com quem trabalhei.
Concluí meu tempo de
serviço em funções de alta gerência. Fui comandante da Escola de Especialistas
e, posteriormente, Subdiretor de Pessoal Militar, função na qual pude ajudar
muitos dos meus antigos alunos e hoje companheiros de farda.
Como viram, desafios e
sacrifícios. Mas por que vale a pena?
Vale a pena porque a vida
militar é baseada em valores fortes, que servem para qualquer situação da vida.
Valores como dever, compromisso, lealdade. Coisas com as quais deveríamos estar
acostumados, mas que são cada vez menos vistas em nossa sociedade. Vale porque
você está em constante aprimoramento, sendo avaliado por cada ação e sendo
reconhecido por seus méritos.
Existem problemas? Claro. Você
vai ter chefes chatos, às vezes. Há militares que incorrem em erro? Há. Não
somos super homens e mulheres. Somos uma parcela da sociedade em que vivemos.
Mas temos em nós sentimentos de união e camaradagem. Vou dar um exemplo.
Há três anos, fiz um cruzeiro
com escalas em Buenos Aires e Montevidéu. Coincidentemente, dois antigos
subordinados, suboficiais de desempenho excepcional e que com muita honra
considero amigos, estavam cumprindo missões nas embaixadas daqueles países. Os
dois não mediram esforços em me auxiliar na estadia. Dá-nos verdadeiro prazer
quando encontramos com irmãos de farda em qualquer situação.
Você vai ficar rico? Não,
porém vai ter uma vida digna e ser capaz de constituir família com conforto.
Não espere recompensas financeiras. Não é o nosso trabalho. O que esperamos ao
final de cada dia é o reconhecimento de nossa importância para o
desenvolvimento e para a defesa do país. Não pedimos muito...
Gostei. Como faço para
entrar?
Há diversas formas, para
diferentes graus de instrução e formação. No meu caso, prestei concurso para a EPCAR,
o que me valia, à época, passagem direta para a Academia da Força Aérea. Recomendo muito também, para quem gosta de trabalho técnico, o ingresso na Escola de Especialistas, berço dos homens e mulheres que dão suporte à atividade-fim da FAB.
O melhor a fazer é consultar
os sites das três Forças: www.fab.mil.br , www.eb.mil.br e www.mar.mil.br
. Lá estão listadas todas as formas de ingresso e os requisitos para cada uma
delas.
Dê uma olhada! Como eu
falei, vale a pena...
Até o próximo...
Eu assino.
PS: Beijinho para minha sobrinha Luiza, 10 aninhos, que acabou de passar por uma cirurgia. Graças a Deus, está tudo bem! E pra Alice, irmã dela, senão eu levo bronca...
Como sempre belas palavras... Incentivadoras, esclarecedoras e que explica um pouco do orgulho que sentimos do Sr por valorizar todos os níveis de formação da força aérea, inclusive os colaboradores que trabalham conosco desde a limpeza até a chefia, tratando todos com o mesmo respeito e companheirismo. Muito orgulho em ter feito parte de sua equipe. E se vale a pena, MUITAAAAAAA
ResponderExcluirMto bom Jayme, acho que vc deveria pensar em fazer palestras nas escolas...esses nossos jovens estao precisando conhecer pessoas assim como vc...
ResponderExcluirComandante, estou feliz em ler essas palavras. Consigo até escutar sua voz. Obrigada pelo exemplo.
ResponderExcluirAna Carolina Caldas